Saturday 7 November 2009

Vitrines

Há um bom tempo me permito pensar que vivemos permanentemente ostentando vitrines ou como se nelas vivêssemos...

Apresentamos ao mundo a face que mais ou melhor nos aprouver no momento: colocamos tais faces em nossa vitrine daquele dia... Tornamo-nos objetos, dispostos em eternas cristaleiras, em observação contínua e esmiuçada...

Quantas verdades, tristezas, alegrias e sabe-se lá quais outros sentimentos não escondemos devidamente dentro de nós mesmos?

Quantas emoções não aprendemos a guardar cada vez mais dentro de nós mesmos, de modo a não demonstrar nada em nossa vitrine diária?

Além disso, em função da crescente globalização que nos deparamos ultimamente, em que o mundo fica ali ao lado, em que amigos, no mais das vezes, vivem a quilômetros de distância, estamos criando o hábito de trajar outras vitrines, já que pelo mundo virtual, somos quem quisermos, criamos o personagem que melhor nos convier para aquele momento, lugar, tempo, pessoa...

Quanto perdemos de convivência real em função disso tudo?

Estamos nos transformando em seres cada dia um pouco mais virtuais e “a la carte”, em permanência contínua em uma vitrine, em, exposição para pronto uso, abuso ou degustação...

Não sei como sobrevivem, neste cenário, pessoas que, como eu, ainda se sentem felizes, por serem como são, por admitirem suas verdades abertamente, por não terem medo de abrir o peito e gritar: “Sou assim, me aceite ou vá embora!”

Particularmente... sei que essa sou eu, é minha verdade primeira, e sei que não é tarefa fácil, nem que passamos incólumes a ela.

Dá-nos tristeza dorida, lágrimas demais, desencanto com o humano ser, sim, dá...

Contudo, sobrevivemos, sim, respiramos, sim, e, posso garantir, ao sair da vitrine (sim, também fico por lá de quando em vez!) , percebemos que amar, viver e sorrir ainda vale muito a pena...