Monday, 11 October 2010

Conto de Fadas

Novamente ponho-me a cismar a respeito de um tema recorrente e velho conhecido: desilusão...

Acredito que todas nós, mulheres sonhadoras deste pálido planetinha azul, crescemos ouvindo as mesmas histórias, brincando de casinha com as mesmas bonequinhas, lendo os mesmos e clássicos romances ou contos de fadas em que tudo sempre acaba com o momento mágico em que o príncipe encantado encontra a sua delicada e meiga donzela desvalida...

Crescemos tecendo sonhos mágicos sobre o dia em que um corcel branco apareceria na linha do horizonte e traria consigo aquele que seria a resposta ao nosso sonho de amor, a segunda voz do nosso dueto particular e único, aquele que assinaria conosco o “felizes para sempre” no livro de nossas vidas...

Ninguém nos contou o que vinha depois do “felizes para sempre” que, via de regra, fechava com chave renascentista e dourada as histórias que povoavam nossas mentes, sentidos e emoções em formação.

Também esqueceram de mencionar que, no mais das vezes, não é o sapo que vira príncipe e, sim, o príncipe que vira sapo rabugento ao primeiro sinal de nevoeiro... Isso se ele se der ao trabalho supremo de ficar por perto ao invés de escapulir para a primeira poça à vista, à procura de alguma outra donzela desavisada e ainda crédula...

Faltou nos ensinarem como reagir ao perceber que nada é eterno, que não existe felicidade perene nesta vida...

Ninguém nos contou que não existe bússola viável para o mar revolto de emoções por vezes traiçoeiras e imprevisíveis... E nem que, em termos de amor romântico, às vezes o certo vira errado e vice-versa...

Deixaram-nos acreditar na velha tabuada do amor perfeito, em que o um encontra o dois para criar o três ou mais...

Abandonaram-nos à própria sorte em tempos direcionados por números complexos e sua impossibilidade aparente munidas apenas com ferramentas equacionais adequadas a números naturais e inteiros... O que nos resta fazer?

Começamos a afogar sonhos em tonéis de lágrimas escondidas devidamente e nunca derramadas, a esconder sentimentos em frieza calculada, a disfarçar emoções em eficiência reconhecida e a pontilhar de ironias nossos mais ardentes desejos de realização sentimental...

Tornamo-nos blasé para não admitir o vazio, não deixar que ele transborde de tal forma, que nos anule até o brilho do olhar...

Assim, somos nós, mulheres pós-modernas... liberais, sem sequer sabermos como; descoladas sem nem ao menos querermos sê-lo; sozinhas em nossa perfeita desilusão iludida, estudada para enganar a nós mesmas de tal forma até que nada deixe transparecer o quão complicado é para nossos corações entender essa vida sem contos de fadas...

3 comments:

  1. Muitas desilusões... Poderia escrever qualquer coisa nesse espaço, algo otimista, com palavras de efeito, mas não consigo. Talvez daqui um tempo, em que esteja diante dum cenário maravilhoso, escondendo minha própria hipocrisia depois de ter chorado algumas noites, ter ido ao fundo do poço, blasfemiado contra tudo e contra todos. Talvez um dia sim, mas nesse momento não ignoro as sombras que a luz do "amor" provoca.

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  2. Meu amigo querido!!!!!!! Bem-vindo ao clube!!! A minha única diferença é que só me permito chorar uma única noite. Pode até ser inteira, mas, apenas uma! Depois, fico um tiquinho mais crítica e mergulho em "sombras que a luz do 'amor' provoca" em mim também!!!

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